Projeto reúne ativistas de 14 municípios do Rio de Janeiro

A segunda etapa da formação será de aulas presenciais nos municípios representados pelos militantes

Alunos de 14 municípios participam do curso

O curso de extensão “Políticas Públicas, Desenvolvimento e Direito à Cidade” promovido pelo Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS/UFRRJ), em parceria com a Casa Fluminense, durante o primeiro módulo, que se encerrou em dezembro, conectou 53 militantes de entidades civis de 14 municípios do estado em encontros de formação sobre questões político-sociais para o desenvolvimento de Agendas Locais. A próxima fase será de Oficinas de Diagnóstico, com aulas presenciais programadas para ocorrer em cada um desses municípios.

Com a coordenação-geral da professora Flávia Braga Vieira, do Departamento de Ciências Sociais (DCS-ICHS), o curso foi lançado através de edital publicado em setembro de 2023, que teve como requisito a participação em lutas e organizações sociais. Dentre os inscritos, em outro processo, foram selecionados 26 bolsistas de extensão, contemplados com uma bolsa acadêmica com duração de 10 meses, sendo 20 para a categoria de mobilizadores e seis de organizador de mobilização.Para compor a equipe acadêmica da UFRRJ, junto ao corpo docente, também foram selecionados seis bolsistas para compor a equipe acadêmica da UFRRJ, desses: dois mestrandos e um  doutorando do PPGCS, duas estudantes de jornalismo e uma de ciências sociais.

Lideranças locais unem esforços

Jorge Luiz da Silva, de S. João de Meriti, na pesquisa de preços de alimentos para a cozinha solidária

O projeto alcançou militantes com perfis diversos, abrangendo diferentes faixas etárias, gêneros e áreas de atuação, partindo de contextos regionais específicos. Morador da Baixada Fluminense, em São João de Meriti, Jorge Luiz da Silva compartilhou sua experiência ao perceber no curso uma oportunidade para aprofundar sua compreensão das estratégias de alinhamento entre desafios e soluções englobados no ativismo social.

Aos 56 anos, Jorge Luiz relata que sua dedicação na defesa dos direitos de sua comunidade surge desde a juventude, inspirada pelo exemplo de seu pai, também engajado na militância política. Sua trajetória incluiu participação no movimento estudantil, colaboração com associações de moradores, envolvimento em segmentos religiosos e sindicatos operários. Atualmente, se dedica ao papel de pastor evangélico e lidera a iniciativa Rede de Cozinhas Solidárias em São João de Meriti.

O líder social destacou a integração dos saberes proporcionados pela prática do ativismo com os conhecimentos adquiridos ao longo do curso. Segundo ele, ações como essa fortalecem sua atuação, proporcionando mais embasamento para as proposições que deseja. “O curso surge em um momento crucial, no qual pude participar e adquirir conceitos de extrema relevância, aplicando-os imediatamente no dia a dia das minhas atividades.”, conclui.

Adriana da Silva organiza projetos sociais em Teresópolis

Em Teresópolis, município da região serrana, a assistente social e presidente da associação de moradores do bairro Fischer, Adriana da Silva, acompanha o curso com entusiasmo. Seu objetivo é adquirir conhecimentos sobre as questões que impactam o cotidiano dos moradores da localidade onde reside, descrita por ela como esquecida pelo poder público. Há 3 meses, com dinheiro do próprio bolso, Adriana alugou um espaço onde deseja promover projetos como cozinha solidária, hortas comunitárias e prestar assistência trabalhista através de cursos gratuitos, visando fomentar o empreendedorismo local. Mas, devido à falta de recursos e assistência, algumas das ações que ela pretende desenvolver são impedidas de serem concretizadas no momento.

São desafios enfrentados por líderes comunitários como Adriana, que, mesmo com vontade e iniciativa, podem se deparar com limitações estruturais e burocráticas no processo de implementação de projetos para melhorar a qualidade de vida em suas comunidades. Ainda assim, a líder comunitária segue trabalhando em iniciativas emergentes como a captação de doações de alimentos e vestuário e buscando o poder público para reivindicar sobre as demandas locais.

Adriana enfatizou que o curso traz novas perspectivas para as ações que busca desenvolver.  “Eu enxergo que o encontro entre o conhecimento acadêmico e a prática da atividade abre um leque de oportunidades. O conhecimento contribuiu e, através dele que a gente vai melhorando a prática. Então, conhecimento acadêmico e multidisciplinar é muito importante para gente ter mais efetividade nas nossas ações”, disse.

Juventude busca acesso à educação

Compreender a educação como peça fundamental para transformação nas periferias foi o que motivou o jovem Thadeu Henrique, de 24 anos, a ingressar no ativismo social. Desde 2019, ele tem se dedicado ativamente à luta por uma educação mais justa por meio do projeto de pré-vestibular “Educação Emancipa”, em Santo Antônio de Pádua, no noroeste do estado. O projeto possibilitou que aproximadamente 350 alunos alcançassem o ingresso em universidades por meio dos programas SISU, Prouni e FIES. Atualmente residindo em Jardim Catarina, São Gonçalo, Thadeu Henrique assume a coordenação da “Juventude Fogo no Pavio”, um movimento comprometido com a defesa da educação popular, que desenvolve trabalho de base em lutas territoriais e que apresenta propostas para contribuir com as pautas que permeiam as preocupações da juventude brasileira.

Thadeu Henrique, de São Gonçalo, atua na educação popular

Alinhando o trabalho voluntário com a graduação Interdisciplinar em Educação no Campo, o jovem destacou a importância do alcance que a universidade propõe através do curso de extensão “Políticas Públicas, Desenvolvimento e Direito à Cidade”. “Quando a gente tem essa instituição (ICHS/UFRRJ) pensando na construção e ajudando a construir, com a estrutura que a universidade pode oferecer para a comunidade, eu acho que é fundamental e é um primeiro passo para aproximar a universidade  da sociedade. E que isso também inspire outras pessoas que, ao participar desse projeto através de entrevistas, através das construções, possam entender que a universidade pública é o local delas e que podem sim batalhar por suas vagas nesses espaços”, ressaltou.

Através do curso, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro propõe aprofundar o conhecimento dos cidadãos, favorecer o debate da sociedade civil em questões político-sociais e capacitar os estudantes a operarem com o conhecimento científico e técnico para a melhor defesa de seus direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Para saber acompanhar as ações desenvolvidas durante o curso, acesse o site do Instituto ou no instagram @ichs_ufrrj.

Fotografias: arquivo pessoal

Texto: Fábia Souza, estudante de jornalismo da UFRRJ, bolsista do projeto*

Imagens gráficas: Giovanna Saviotti, estudante de Ciências Sociais da UFRRJ, bolsista do projeto*

*sob orientação de Alessandra de Carvalho, docente do DLC/ICHS/UFRRJ