Artigo: Democracia e cancelamento social

Democracia e cancelamento social: Como funciona o cancelamento de pessoas por meio de mídias digitais?*

por Alexander Martins Vianna – professor do DHist-ICHS/UFRRJ

 

1- Um grupo de pessoas forma uma rede autorreferida e unifica o discurso sobre uma pessoa, definindo para ela intenção. A pessoa passa a ser alvo de desqualificação pública sistemática.

2- A intenção sobre o alvo é definida pela descontextualização insistente do discurso, dando-se peso errado às ações e palavras do alvo.

3- O alvo vai sendo desumanizado publicamente, em vez de ser acessado para diálogo e esclarecimento de dúvidas sobre sua conduta.

4- A desumanização mais eficaz é aquela que cria enredo de vilania para o alvo, porque isso reverbera escuta reativa a tudo que ele faça ou argumente em contrário, o que explica a estratégia do item “3”.

5- É importante que o ambiente social já esteja intoxicado por linguagens integristas maniqueístas, previamente condicionadas pelo hábito de consumo de linguagens de melodrama ou pela polarização política.

6- O papel de alvo, colocado em enredo de vilania, precisa da contraparte unificada: o testemunho das “vítimas”.

7- O grupo engajado na rede de vilanização do alvo precisa garantir a unidade discursiva, ou seja, eliminar a possibilidade do contraditório por meio do silenciamento de outros grupos que discordam dos “motivos e temas” arrolados pelos canceladores.

8- A recorrência discursiva vai adquirindo peso de evidência contra o alvo.

9- Este dispositivo de “evidência” reforça a escuta reativa: a indisposição pública de achar outras hipóteses de intenção e contexto para palavras e condutas do alvo.

10- O alvo é silenciado, mas ainda não cancelado.

11- Para ser cancelado, é necessário que os canceladores mobilizem instâncias com poder de ratificar o enredo dos canceladores, e punir ou constranger o alvo.

12- É importante que tudo pareça democrático, no sentido de “vontade da maioria”.

Enfim, discentes e docentes, tal conduta na micro ou macro política já destituiu uma presidenta do cargo e levou um reitor de universidade pública ao suicídio. A mesma disposição está presente naqueles que defendem “Escola sem Partido” e mobilizam seus filhos e pais para perseguirem e silenciarem professores. A mesma falta de ética manteve no poder um presidente genocida. Fica aí o espelho para quem se entende educador, mas alimenta escorpiões na cultura política efetivamente praticada na sua vida social e profissional.

 

*O texto é de caráter autoral e opinativo.

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